In a Hierarchy Every Employee Tends to Rise to His Level of Incompetence – Numa hierarquia, cada empregado tende a atingir o seu nível de incompetência. Depois de escrever esta frase, Laurence J. Peter acreditou ter criado uma nova ciência: a “hierarquiologia“. É um livro divertido e útil para se ter em conta na gestão de pessoas e organizações.
Milton Friedman (1912-2006), com a publicação do livro Capitalism and Freedom, em 1962, deu origem à bipolarização entre “keynesianos” e “monetaristas”, entre os partidários da condução da economia através da política orçamental (despesa pública) e os defensores da “pilotagem” através da política monetária (taxa de juro). As duas escolas influenciaram governos, reclamam sucessos e outros tantos fiascos, como é normal acontecer com as ortodoxias. Friedman, que destacou a importância da liberdade económica contra o intervencionismo estatal e lançou ideias interessantes como o imposto negativo, tem um lugar de honra na história da ciência económica. Capitalism and Freedom foi um livro empolgante no seu tempo e ainda se lê com prazer, desde que não se perca a distância crítica. É neste livro que Friedman iniciou a sua conhecida e disparatada diatribe contra a ideia de responsabilidade social.
Em 1927, o filósofo francês Julien Benda (1867-1956), publicou La Trahison des Clercs, um livro em que formula uma acusação: “as pessoas que têm a função de defender os valores eternos e desinteressados, como a justiça e a razão, que eu chamo clérigos, trairam essa função em proveito de interesses práticos” . Para Benda, os valores da justiça, da verdade e da razão são perenes (statiques), desinteressados e racionais. Mas as pessoas que os deveriam defender – políticos, jornalistas, ensaístas, escritores – deixaram transformar-se em “clérigos”, isto é, defensores e propagandistas de ideias opostas. Em nome da “ordem” atacaram a democracia e o pluralismo, defendendo a autoridade do estado monolítico, e negaram a liberdade, defendendo a inevitabilidade. La Trahison des Clercs foi um livro premonitório. A ascensão do fascismo, que encarou a democracia como “antecâmara do comunismo“, propalou as ideias de “ordem“, “estado forte” e da infalibilidade do líder (führerprinzip), contra as ideias de racionalidade e liberdade individual. Apropriou-se do nome de Deus, da ideia de Pátria e subverteu os valores da Família e do Trabalho, colocando-os nos estandartes partidários com slogans como ‘patrie, famille, travail‘ ou ‘deus, pátria, autoridade‘. Por seu turno, o comunismo quis relativizar a razão, a verdade e a justiça, que considerou serem valores “de classe“, enquanto a ideia de liberdade foi substituída pela inevitabilidade e pela marcha inexorável da história, resultantes das simplificações mecanicistas do “materialismo dialético” e do “materialismo histórico”. Até a criatividade artística foi negada e reduzida a mera consequência das condições económicas. Ao deixarem-se engajar na onda da propaganda dos totalitarismos, as elites intelectuais – os “clérigos” – renegaram a sua missão e foram agentes e cúmplices dos regimes autocráticos e tenebrosos. Julien Benda não foi propriamente imparcial ou sequer equidistante nas suas críticas. Manteve-se crítico da ideologia comunista, mas admitiu publicamente que os intelectuais deviam “escolher um lado” e assumiu estar do lado dos partidos comunistas, na altura sob a influência soviética e estalinista, tendo chegado ao ponto de justificar os massacres cometidos pelos comunistas na guerra civil espanhola e a execução, em 1949, do húngaro László Rajk, acusado de ser um “espião titista” . Todavia, a ideia central de Benda – a responsabilidade dos “clérigos” pela defesa da razão, da verdade e da justiça – mantém a pertinência, hoje como antes da Segunda Guerra Mundial.
A História política das duas décadas mais recentes, vista pelo historiador Timothy Snyder, dá conta da forma como, passo a passo, o regime de Vladimir Putin trabalhou para a divisão e enfraquecimento da Europa e do Ocidente em geral para poder satisfazer os interesses de um regime totalitário, corrupto e feito a medida de uma oligarquia. ‘The Road to Unfreedom‘, publicado em 2018, dá conta de como Donald Trump foi cultivado e financiado pelo regime russo.
Em abril de 1995, Umberto Eco foi conferencista convidado pela Universidade de Columbia para uma sessão comemorativa da vitória da Europa sobre o regime fascista responsável pela II Guerra Mundial. O texto dessa conferência foi publicado na revista “The New York Review of Books” no dia 22 de junho de 1995″ e ficou para a história como uma espécie de “sensor” para detetar o fascismo. A expressão ‘UR-Fascismo’, ou ‘fascismo eterno’ representa o perigo de ressurgimento de manifestações fascistas nos regimes políticos. Umberto Eco listou 14 caraterísticas típicas que, em conjunto ou separadamente, devem fazer soar o alarme. O texto, que é curto, é imperdível. Por isso, também tem lugar na Avenida dos Livros, para que nenhum leitor interessado perca a oportunidade de o ler, na língua inglesa ou na tradução espanhola. O professor italiano terminou a sua conferência com o aviso: “não podemos esquecer”. Hoje, os sinais do fascismo são demasiado evidentes…
Em 1906, José Francisco Trindade Coelho publicou um “manual político” extenso e completo. Inspirou-se na ‘Instruction Civique” de Numa Droz (Suiça). Infelizmente, o nível de alfabetização, de literacia e de participação política era tão baixo que o manual apenas aproveito a um pequeno número de portugueses. Ainda assim, a edição esgotou ao fim de um ano. Trindade Coelho foi sensível ao tema da alfabetização e da literacia. Escreveu vários ‘Livros de Leitura‘, a ‘Cartilha do Povo‘ (1901) e ‘O ABC do Povo’ (1902). Este “manual político” é um testemunho do sistema político português nos últimos anos da monarquia. Demasiado fiel à tradução de Droz, Trindade Coelho deixou no seu “manual” esta afirmação: “a forma de governo que nos parece melhor, para um povo instruído e patriota, é a república democrática e federativa. Nesse regime, o povo é o verdadeiro soberano tanto de facto como de direito” (páginas 35-36). Trindade Coelho era monárquico. Como podia ele considerar que a melhor forma de governo seria republicana, democrática e federativa? Aparentemente, Trindade Coelho devia pensar que estas três coisas só são adequadas para “um povo instruído e patriota” e que o povo português estava longe de o ser… Outra particularidade datada deste “manual” são as dezenas de páginas ocupadas com críticas às instituições religiosas, especialmente a Companhia de Jesus. Trindade Coelho culpa estas instituições de serem causa “do nosso atraso e da nossa falta de instrução e de educação“(página 305). A defesa da laicização da educação esteve, nesta época, afetada pelo anticlericalismo e, por conseguinte, longe da ideia de liberdade religiosa. Como a Igreja era conotada com “a reação“, Trindade Coelho fez questão de separar bem as águas entre a “democracia social” e a “democracia cristã”, e de manifestar a sua esperança na extinção da propriedade sobre os instrumentos de produção na abolição das classes sociais. Embora as 700 páginas cheguem e sobrem para sustentar o título de “manual”, Trindade Coelho não resistiu a usá-lo como panfleto. Isso torna a leitura ainda mais interessante.
Teresa Pinto (coordenação), Conceição Nogueira, Cristina Vieira, Isabel Silva, Luísa Saavedra, Maria João Silva, Paula Silva, Teresa-Cláudia Tavares e Vasco Prazeres.
Pela sua enorme importância, o tema da igualdade de género ocupou um “espaço” dominante no ensino da disciplina de cidadania. Pelo caminho, cometeram-se exageros. Outros temas de cidadania, não menos importantes para a formação de crianças e jovens, foram descurados. Por outro lado, a tentativa de imposição de posições extremas sobre género, levou a posições não menos extremas contra a disciplina de cidadania. Persistem as dúvidas sobre o que se ensina, o que se quer ensinar e o que se devia ensinar nas escolas portuguesas. A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (nome que também reflete a sobrevalorização relativa da igualdade de género face a outros temas de cidadania) preparou um Guião para o 3.º ciclo do Ensino Básico. Convém começar por ler este documento, que foi “validado” pelo Ministério da Educação.
Quando, em 2015, Serhii Plokhii deu à sua História da Ucrânia o título ‘The Gates of Europe’, já tinha começado a primeira invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin. A Rússia tinha anexado a Crimeia e começou a fomentar uma guerra suja separatista nas regiões de Donetsk e Lugansk. Em 2022, o título escolhido revelo-se premonitório: com a segunda invasão, começou uma guerra duríssima em que se joga o futuro da Europa. A maior parete dos europeus teve consciência do pouco que sabe da história da Ucrânia como nação. A melhor forma de ganhar imunidade à propaganda é começar por conhecer a história da Ucrânia. Serhii Plokhii é o autor ideal: há anos que ensina História da Ucrânia na Universidade de Harvard.
Norberto Bobbio (1909-2004), senador vitalício italiano, deixou várias obras de reflexão política. Formou-se entre o ambiente fascista do regime e da família e as convições democráticas. Criticou o fascismo, o nazismo, o marxismo, o bolchevismo e, nos anos mais recentes, o populismo de Berlusconi. Os livros aqui referenciados pela Avenida dos Livros são uma pequeníssima parte do seu legado.
Demasiado livre para ser tolerado, Nikolai Alexandrovich Berdyaev, de origem ucraniana (Lyiv, 1874) foi expulso da universidade por ser marxista (1894), abandonou o marxismo vinte anos antes da “revolução de outubro”, admitido e expulso da universidade de Moscovo em 1920, preso e finalmente deportado por ordem de Lenine (1922). A distância em relação ao capitalismo e ao marxismo levou-o a defender um cristianismo universalista e personalista. O seu legado pertence à enorme parcela da cultura russa que o regime soviético tentou esconder.
Muel Kaptein, professor da Universidade Erasmo de Roterdão e partner da KPMG, é autor de vários livros sobre ética profissional, tais como Ethics Management (1998), The Balanced Company (2002), The Six Principles for Managing with Integrity (2005), The Living Code (2008), e Workplace Morality (2013). The Servant of the People: On the power of integrity in politics and government, publicado em 2014, é dedicado especialmente à ética no exercício de cargos políticos ou quaisquer outros cargos públicos. A integridade tem pelo menos 95 facetas, tantas quantas os capítulos deste livro. Não há políca boa sem integridade.
Os regimes comunistas criam inevitavelmente dissidentes. Os dissidentes conseguem compensar a sua falta de poder e essa é a causa da queda dos referidos regimes. Assim pensava Vaclav Havel em 1978, quando era apenas um dramaturgo dissidente e nem imaginava que, em 1993 seria o primeiro presidente da República Checa, depois da separação da Eslováquia. No final dos anos 70, sobravam as interrogações…
Com uma longa carreira na elite do poder soviético, Mikail Gorbachov sabia da inviabilidade e da injustiça do sistema. Teve a vontade e a coragem de o tentar mudar: as palavras perestroika (reestruturação) e glasnost (abertura) representaram essa tentativa. O sistema soviético ruiu, o muro de Berlim caiu, e com ele a “esfera de influência” de uma URSS que usou o ‘Pacto de Varsóvia’ para invadir os seus “aliados”. Pode dizer-se que o legado de Gorbachov foi mais esperança que resultados. Mesmo assim, os resultados não foram coisa pouca. Putin, o funcionário de terceira ordem do KGB ascendeu a ditador, não lhe perdoou ter deixado cair a União Soviética e negou-lhe o funeral de Estado. Décadas depois, convém revisitar Gorbachov. Para além das centenas de documentos diplomáticos entretanto desclassificados sobre a negociação da reunificação da Alemanha, podemos ler os livros que Gorbachov deixou.
“A perspectiva futura de uma política global verdadeiramente pacífica reside na criação através de esforços conjuntos de um único espaço democrático internacional no qual os Estados devem ser guiados pela prioridade dos direitos humanos e do bem-estar dos seus cidadãos e pela promoção dos mesmos direitos e de um bem-estar semelhante nos restantes lugares. Isto é um imperativo da crescente integridade do mundo moderno e da interdependência dos seus componentes”.
Discurso na Cerimónia de atribuição do Prémio Nobel da Paz, de 1991 (incluído no livro “The Road We Traveled, The Chalenges We Face”)
O que pensava Marcelo Caetano sobre “O Ultramar”, no final dos anos 40 do século passado? O que pensava sobre os Municípios? A Universidade? As “Páginas Inoportunas” quase caíram no esquecimento…
Em 2014, os EUA registaram 11008 homicídios cometidos com armas de fogo. Em dezembro de 2017, a indústria americana das armas de fogo contava com 11800 empresas. Existirá relação entre uma coisa e outra? Michael Erbschloe reuniu neste livro uma série de informações, incluindo estatísticas, estudos e tomadas de posição.
Mark Garnett reuniu neste livro artigos de vários autores sobre as versões e variantes do “pensamento conservador”, incluindo no Ocidente, na tradição islâmica moderna e erm países como a Rússia, a Turquia e o Japão.
“O modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares teu filho. Consagra-te a ele. A educação pública é uma burla atrozmente vergonhosa. Não lhe entregues a criança que o destino te confiou. Educa-o tu. Se não souberes mais, procura pelo menos torná-lo forte, ensina-lhe a ler e a escrever, dá-lhe um ofício e fá-lo um homem de bem; ele de si mesmo se fará um sábio, se tiver de o ser.”
“Não quero que ninguém queira por mim – quero ser eu a querer por mim própria“. Esta afirmação de ‘I-330’, a mulher rebelde da novela ‘We‘, explica o facto de o livro, escrito em 1921, apesar de ter circulado clandestinamente, não ter sido autorizado para publicação na Rússia de Stalin, em que a vontade individual tinha de ceder à vontade do partido. ‘We‘ descreve a vida num estado totalitário e merece um lugar de destaque na wall of fame das distopias. Yevgeny Zamyatin foi exilado duas vezes, a primeira em 1905 por ser bolchevique, a segunda em 1931, para escapar à perseguição do regime de Stalin. A saída do país foi autorizada por intercessão de Maximo Gorki. Escapou à prisão mas não escapou ao sofrimento e penúria em Paris, onde veio a falecer em 1937. Os seus vários ensaios sobre o papel da literatura foram reunidos e publicados em 1970 pela editora da Universidade de Chicago no livro ‘A Soviet Heretic‘. Num deles, escreveu: “A verdadeira literatura só existe se for criada, não por funcionários fiéis, mas por loucos, eremitas, heréticos, sonhadores, rebeldes e céticos“. A leitura dos dois livros ultrapassa o interesse histórico – ainda são atuais porque, como disse Bulgakov, “os manuscritos não ardem“.
O livro ‘L’Homme Révolté‘, publicado em 1951, foi mal recebido. No ambiente ideológico polarizado da época, os intelectuais de direita rejeitavam Camus por ser de esquerda. Os intelectuais de esquerda, como Jean Paul Sartre, não lhe perdoaram as críticas à violência e à opressão do regime soviético. ‘L’Homme Révolté‘ estabelece a relação indissociável do humanismo do século XX com as exigências de democracia e liberdade. Os “homens de esquerda”, incapazes de pensar “fora da caixa”, achavam que a democracia e a liberdade podiam esperar. Ainda hoje, há uma certa esquerda que pensa que o poder da esquerda é mais importante que o respeito pelos direitos fundamentais… Camus evoca a história das revoltas e tenta o “deve e haver” dos resultados. Em vez da morte e da violência, a revolta deve associar-se ao pensamento e não pode esquecer a primazia da vida.
Para além do livro, Camus insurgiu-se contra a invasão da Hungria e aplaudiu a atribuição do Nobel da Literatura a Boris Pasternak. Atitudes imperdoáveis para o regime de Stalin que podem ter estado na origem do acidente em que Camus perdeu a vida.
Publicado pela primeira vez em 1951, o livro As Origens do Totalitarismo / The Origins of Totalitarism continua a ser referência para compreender a formação dos regimes totalitários, ou seja, os que recorrem a “meios de dominar e aterrorizar as pessoas a partir do seu próprio pensamento” (“means of dominating and terrorizing human beings from within“), o que representa um grau de opressão superior ao da ditadura. Arendt ocupa-se especialmente dos regimes nazi de Hitler e soviético de Stalin e desenvolve temas como o antissemitismo, o colonialismo e o imperialismo. Para além do interesse histórico, o livro ajuda a detetar e perceber as manifestações atuais de racismo, imperialismo e totalitarismo.
Pode obter este livro em PDF na versão em língua inglesa ou na versão em língua portuguesa (tradução de Roberto Raposo).
O maior resgate de informação secreta da era da ‘guerra fria’;
O maior golpe sofrido pelo KGB;
Milhares de agentes e e informadores expostos;
Informadores do KGB em Portugal.
Em 1972, o KGB concluiu a construção de um novo edifício em Yasenevo (sul de Moscovo) para os seus arquivos. Vasili Mitrokhin foi encarregue da missão de classificar e transferir os documentos para o novo edifício. A operação demorou 12 anos. Desiludido com o regime soviético Mitrokhin começou a preparar a sua reforma. Ao longo desses doze anos, transcreveu à mão documentos secretos e fê-los sair do edifício escondidos nos sapatos. Em casa, acumulou-os em latas de leite colocadas sob o soalho ou enterradas no quinta da casa de campo. No dia 24 de março de 1992 (um ano depois da dissolução da união soviética), viajou para Riga com alguns desses papéis. Na embaixada dos EUA, não foi considerado credível. Na embaixada do Reino Unido, foi recebido por um jovem diplomata decidiu que comunicou o assunto ao MI6 (a designação usual do Secret Intelligence Service, SIS) e pediu a Mitrokhin para voltar dias depois. Mitrokhin compareceu num local discreto, entregou 10 envelopes com mais de 2000 páginas. Ficou de voltar em junho com mais documentos. Douglas Hurd, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do governo de Margaret Tatcher, aprovou a resgate dos documentos escondidos em casa de Mitrokhin e a concessão de asino para o agente russo e a sua família. Operacionais do MI6 visitaram a ‘dacha’ (casa de campo) de Mitrokhin e precisaram de cinco bagageiras de automóvel para trazer os manuscritos de Mitrokhin, que cobriam mais de 70 anos de atividade. Foi um dos maiores resgates de informação secreta de sempre. Em outubro, Mitrokhin obteve asilo e ficou a viver no Reino Unido com identidade falsa, colaborando com o MI6 na tradução dos manuscritos. O impacto dos manuscritos Mitrokhin foi enorme, incluindo listas de agentes, infiltrados e colaboradores do KGB na Europa e os EUA e detalhe sobre as informações que forneceram. Foi o maior “rombo” de sempre na espionagem do KGB. Ficou-se a saber, por exemplo, como o KGB tinha preparado uma campanha de desinformação para prejudicar a eleição de Ronald Reagan. Anos depois, Mitrokhin foi autorizado a publicar a sua história em livro e a revelar inúmeras operações de espionagem do KGB. Entre elas, o modo como Svyatoslav Kuznetsov, agente do KGB junto da embaixada da URSS em Lisboa se encontrou com Álvaro Cunhal para combinar o recrutamento de seis informadores. Objetivo: facultar ao KGB o máximo de informação possível sobre os serviços de informações portugueses e sobre a NATO. As notas de MitrokhIn indicam dois advogados ao serviço do governo, um advogado ligado aos sindicatos sindical, um conservador do registo civil e dois jornalistas. A história de Vasili Mitrokhin, incluindo este e muitos outros episódios, está neste livro THE SWORD AND THE SHIELD – THE MITROKHIN ARCHIVE AND THE SECRET HISTORY OF THE KGB.
Apanhados entre Atenas e Esparta, os melianos (habitantes da ilha de Melos) tentaram em vão convencer os atenienses a desistir da invasão (416 a..) , a troco da sua neutralidade. A resposta dos atenienses dissipou todas as ilusões: “não entrastes com eles na guerra, pensando que assim nos convenceis, ou então que em nada nos fizestes mal; esperamos que em vez disso analiseis o que é praticável, dentro do realismo que anima o pensamento de cada um de nós, pois sabeis como nós sabemos, que o que é justo na vida humana só é avaliado em circunstâncias equivalentes, e que os mais fortes fazem o que podem, enquanto os mais fracos fazem o que devem.“
Escrito em forma quase teatral, o diálogo entre atenienses e melianos é um dos episódios mais citados da ‘História da Guerra do Peloponeso‘ a obra com que deu a Tucídides a reputação de um dos grandes primeiros historiadores. Numa obra cheia de detalhes militares, o episódio indica a relevância da “lei dos mais forte” e da chantagem nas relações internacionais. Se um dos lados se acha superior em poderio militar, não se contenta com a neutralidade e por isso não prescinde de impor a submissão a todos os povos à sua volta. O diálogo não resultou. Os melianos tiveram se escolher entre a guerra e a servidão. A História da Guerra do Peloponeso foi traduzida do grego para a língua portuguesa por Raul M. Rosado Fernandes e M. Gabriela P. Granwehr, e editada pela Fundação Calouste Gulbenkian. O episódio das negociações entre melianos e atenienses está nas páginas 507 a 518 ou, se preferirmos, nos parágrafos LXXXIV a CXVI). A citação feita no parágrafo anterior está na página 509 (parágrafo LXXXIX). A segunda edição publicada em 2013, pode ser adquirida na livraria da F.C.G. Existe também uma versão em pdf, disponibilizada gratuitamente pela F.C.G..
Outra versão da obra de Tucídides, resultou da tradução de Mário da Gama Kury e foi publicada pela Editora da Universidade de Brasília em parceria com o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, em 1989. O episódio está nas páginas 346 a 354 (parágrafos 84 a 116).
Também esta versão está disponível em pdf, por iniciativa dos editores. É, portanto fácil obter qualquer uma das versões na internet. Mas, se estiver interessado e não tiver tempo ou paciência para as encontrar, esta página pode fazer o trablho por si. Basta nos envie o comprovativo da doação de alguns euros a uma IPSS à sua escolha e enviaremos de volta os ficheiros pdf.
Melos é uma das ilhas paradisíacas da Grécia, cujas imagens dificilmente são compatíveis com pensamentos bélicos. A guerra só é compatível consigo própria.