TIMOTHY SNYDER

The Road to Unfreedom

Timothy Snider

A História política das duas décadas mais recentes, vista pelo historiador Timothy Snyder, dá conta da forma como, passo a passo, o regime de Vladimir Putin trabalhou para a divisão e enfraquecimento da Europa e do Ocidente em geral para poder satisfazer os interesses de um regime totalitário, corrupto e feito a medida de uma oligarquia. ‘The Road to Unfreedom‘, publicado em 2018, dá conta de como Donald Trump foi cultivado e financiado pelo regime russo.

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UMBERTO ECO

O Fascismo Eterno

Umberto Eco

Em abril de 1995, Umberto Eco foi conferencista convidado pela Universidade de Columbia para uma sessão comemorativa da vitória da Europa sobre o regime fascista responsável pela II Guerra Mundial. O texto dessa conferência foi publicado na revista “The New York Review of Books” no dia 22 de junho de 1995″ e ficou para a história como uma espécie de “sensor” para detetar o fascismo. A expressão ‘UR-Fascismo’, ou ‘fascismo eterno’ representa o perigo de ressurgimento de manifestações fascistas nos regimes políticos. Umberto Eco listou 14 caraterísticas típicas que, em conjunto ou separadamente, devem fazer soar o alarme. O texto, que é curto, é imperdível. Por isso, também tem lugar na Avenida dos Livros, para que nenhum leitor interessado perca a oportunidade de o ler, na língua inglesa ou na tradução espanhola. O professor italiano terminou a sua conferência com o aviso: “não podemos esquecer”. Hoje, os sinais do fascismo são demasiado evidentes…

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TRINDADE COELHO

Manual Político do Cidadão Portuguez

Trindade Coelho

Em 1906, José Francisco Trindade Coelho publicou um “manual político” extenso e completo. Inspirou-se na ‘Instruction Civique” de Numa Droz (Suiça). Infelizmente, o nível de alfabetização, de literacia e de participação política era tão baixo que o manual apenas aproveito a um pequeno número de portugueses. Ainda assim, a edição esgotou ao fim de um ano. Trindade Coelho foi sensível ao tema da alfabetização e da literacia. Escreveu vários ‘Livros de Leitura‘, a ‘Cartilha do Povo‘ (1901) e ‘O ABC do Povo’ (1902). Este “manual político” é um testemunho do sistema político português nos últimos anos da monarquia. Demasiado fiel à tradução de Droz, Trindade Coelho deixou no seu “manual” esta afirmação: “a forma de governo que nos parece melhor, para um povo instruído e patriota, é a república democrática e federativa. Nesse regime, o povo é o verdadeiro soberano tanto de facto como de direito” (páginas 35-36). Trindade Coelho era monárquico. Como podia ele considerar que a melhor forma de governo seria republicana, democrática e federativa? Aparentemente, Trindade Coelho devia pensar que estas três coisas só são adequadas para “um povo instruído e patriota” e que o povo português estava longe de o ser…
Outra particularidade datada deste “manual” são as dezenas de páginas ocupadas com críticas às instituições religiosas, especialmente a Companhia de Jesus. Trindade Coelho culpa estas instituições de serem causa “do nosso atraso e da nossa falta de instrução e de educação“(página 305). A defesa da laicização da educação esteve, nesta época, afetada pelo anticlericalismo e, por conseguinte, longe da ideia de liberdade religiosa. Como a Igreja era conotada com “a reação“, Trindade Coelho fez questão de separar bem as águas entre a “democracia social” e a “democracia cristã”, e de manifestar a sua esperança na extinção da propriedade sobre os instrumentos de produção na abolição das classes sociais. Embora as 700 páginas cheguem e sobrem para sustentar o título de “manual”, Trindade Coelho não resistiu a usá-lo como panfleto. Isso torna a leitura ainda mais interessante.

GÉNERO E CIDADANIA

Género e Cidadania

Guião de educação – 3º ciclo do ensino básico

Teresa Pinto (coordenação), Conceição Nogueira, Cristina Vieira, Isabel Silva,
Luísa Saavedra, Maria João Silva, Paula Silva, Teresa-Cláudia Tavares e
Vasco Prazeres.

Pela sua enorme importância, o tema da igualdade de género ocupou um “espaço” dominante no ensino da disciplina de cidadania. Pelo caminho, cometeram-se exageros. Outros temas de cidadania, não menos importantes para a formação de crianças e jovens, foram descurados. Por outro lado, a tentativa de imposição de posições extremas sobre género, levou a posições não menos extremas contra a disciplina de cidadania. Persistem as dúvidas sobre o que se ensina, o que se quer ensinar e o que se devia ensinar nas escolas portuguesas. A Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (nome que também reflete a sobrevalorização relativa da igualdade de género face a outros temas de cidadania) preparou um Guião para o 3.º ciclo do Ensino Básico. Convém começar por ler este documento, que foi “validado” pelo Ministério da Educação.

SERHII PLOKHII

The Gates of Europe

Serhii Plokhii

Quando, em 2015, Serhii Plokhii deu à sua História da Ucrânia o título ‘The Gates of Europe’, já tinha começado a primeira invasão da Ucrânia pela Rússia de Putin. A Rússia tinha anexado a Crimeia e começou a fomentar uma guerra suja separatista nas regiões de Donetsk e Lugansk. Em 2022, o título escolhido revelo-se premonitório: com a segunda invasão, começou uma guerra duríssima em que se joga o futuro da Europa. A maior parete dos europeus teve consciência do pouco que sabe da história da Ucrânia como nação. A melhor forma de ganhar imunidade à propaganda é começar por conhecer a história da Ucrânia. Serhii Plokhii é o autor ideal: há anos que ensina História da Ucrânia na Universidade de Harvard.

NORBERTO BOBBIO

As ideias do senador vitalício

Norberto Bobbio

Norberto Bobbio (1909-2004), senador vitalício italiano, deixou várias obras de reflexão política. Formou-se entre o ambiente fascista do regime e da família e as convições democráticas. Criticou o fascismo, o nazismo, o marxismo, o bolchevismo e, nos anos mais recentes, o populismo de Berlusconi. Os livros aqui referenciados pela Avenida dos Livros são uma pequeníssima parte do seu legado.

Estado, Governo e Sociedade

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Liberalismo e Democracia

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A Era dos Direitos

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NIKOLAI BERDYAEV

Escravatura e Liberdade

Nikolai Berdyaev

Demasiado livre para ser tolerado, Nikolai Alexandrovich Berdyaev, de origem ucraniana (Lyiv, 1874) foi expulso da universidade por ser marxista (1894), abandonou o marxismo vinte anos antes da “revolução de outubro”, admitido e expulso da universidade de Moscovo em 1920, preso e finalmente deportado por ordem de Lenine (1922). A distância em relação ao capitalismo e ao marxismo levou-o a defender um cristianismo universalista e personalista. O seu legado pertence à enorme parcela da cultura russa que o regime soviético tentou esconder.

Slavery and Freedom

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The Russian Idea

ÉTICA E INTEGRIDADE

The Servant of the People: On the power of integrity
in politics and government

Muel Kaptein

Muel Kaptein, professor da Universidade Erasmo de Roterdão e partner da KPMG, é autor de vários livros sobre ética profissional, tais como Ethics Management (1998), The Balanced Company (2002), The Six Principles for Managing with Integrity (2005), The Living Code (2008), e Workplace Morality (2013). The Servant of the People: On the power of integrity
in politics and government
, publicado em 2014, é dedicado especialmente à ética no exercício de cargos políticos ou quaisquer outros cargos públicos. A integridade tem pelo menos 95 facetas, tantas quantas os capítulos deste livro. Não há políca boa sem integridade.

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VACLAV HAVEL

The Power of the Powerless

Vaclav Havel

Os regimes comunistas criam inevitavelmente dissidentes. Os dissidentes conseguem compensar a sua falta de poder e essa é a causa da queda dos referidos regimes. Assim pensava Vaclav Havel em 1978, quando era apenas um dramaturgo dissidente e nem imaginava que, em 1993 seria o primeiro presidente da República Checa, depois da separação da Eslováquia. No final dos anos 70, sobravam as interrogações…

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MIKAIL GORBACHOV

Com uma longa carreira na elite do poder soviético, Mikail Gorbachov sabia da inviabilidade e da injustiça do sistema. Teve a vontade e a coragem de o tentar mudar: as palavras perestroika (reestruturação) e glasnost (abertura) representaram essa tentativa. O sistema soviético ruiu, o muro de Berlim caiu, e com ele a “esfera de influência” de uma URSS que usou o ‘Pacto de Varsóvia’ para invadir os seus “aliados”. Pode dizer-se que o legado de Gorbachov foi mais esperança que resultados. Mesmo assim, os resultados não foram coisa pouca. Putin, o funcionário de terceira ordem do KGB ascendeu a ditador, não lhe perdoou ter deixado cair a União Soviética e negou-lhe o funeral de Estado. Décadas depois, convém revisitar Gorbachov. Para além das centenas de documentos diplomáticos entretanto desclassificados sobre a negociação da reunificação da Alemanha, podemos ler os livros que Gorbachov deixou.

“A perspectiva futura de uma política global verdadeiramente pacífica reside na criação através de esforços conjuntos de um único espaço democrático internacional no qual os Estados devem ser guiados pela prioridade dos direitos humanos e do bem-estar dos seus cidadãos e pela promoção dos mesmos direitos e de um bem-estar semelhante nos restantes lugares. Isto é um imperativo da crescente integridade do mundo moderno e da interdependência dos seus componentes”.

Discurso na Cerimónia de atribuição do Prémio Nobel da Paz, de 1991 (incluído no livro “The Road We Traveled, The Chalenges We Face”)

OS LUSÍADAS

Os Lusíadas – as edições e a censura

Quem leu e estudou OS LUSÍADAS nos anos 70 ainda se lembra desta edição…

Recuando alguns séculos, podemos chegar à 1ª edição, saída da oficina de António Gonçalves em 1572. A Avenida dos Livros proporciona-lhe uma forma de obter uma versão digital dessa preciosidade.

Como a censura estragou a Ilha dos Amores

Ilha dos Amores‘, escultura de Lagoa Henriques (Jardim-Horto de Camões, em Constança), fotografada por Joana Rita Santos (mediotejo.net)

Durante anos, os investigadores procuraram esclarecer a confusão criada pelas diferenças entre edições. Mas os detalhes tipográficos foram os menor dos males. Os efeitos da censura inquisitorial foram bem mais importantes. As duas imagens abaixo permitem comparar as estrofes 71 e 82 do Canto IX tal como consta da edição de 1572, com a a estrofe “emendada” que surge na edição de 1597.

Na versão original, temos um truque erótico da ninfa, que simula cair (“de indústria cai“) e finge indignação para disfarçar o desejo (“com mostras mais macias que indignadas“), para que o perseguidor caia sobre ela (“que sobre ela empecendo também caia“).

De uma os cabelos de ouro o vento leva,
Correndo, e da outra as fraldas delicadas;
Acende-se o desejo, que se ceva
Nas alvas carnes, súbito mostradas.
Uma de indústria cai, e já releva,
Com mostras mais macias que indignadas,
Que sobre ela, empecendo, também caia
Quem a seguiu pela arenosa praia.

Na versão censurada, a ninfa cai porque foge depressa demais (“com a pressa cai”) e tudo faz para evitar “render-se aos leves pés que a seguiam”, ao ponto de se defender pelo suicídio (“se meter nas armas”).

D´uma os cabelos d’ouro o vento leva
Que madeixas d’Arábia pareciam,
Acende-se o desejo que se ceva
De ver que mais que o Sol resplandeciam:
Outra coa pressa cai, e já releva
Render-se aos leves pés que a seguiam,
E por se assegurar de que a ofende,
Com se meter nas armas se defende:

Na estrofe 82, a censura voltou a estragar a cena…

Versão original

Já não fugia a bela Ninfa tanto,
Por se dar cara ao triste que a seguia,
Como por ir ouvindo o doce canto,
As namoradas mágoas que dizia.
Volvendo o rosto, já sereno e santo,
Toda banhada em riso e alegria,
Cair se deixa aos pés do vencedor,
Que todo se desfaz em puro amor

Versão censurada

Não foge a quem a segue a Ninfa tanto
Temida do perigo em que se via,
Como por ir ouvindo o doce canto,
As namoradas magoas que dizia,
Mas por lhe enfraquecer com novo espanto
O peito ousado, o rosto atras volvia,
Mostrando-lhe no gesto um desengano,
Que não teme de força humana dano

Se leitor estiver interessado em ver por si próprio o “estrago” que a censura causou aos Lusíadas, e se tiver paciência para fazer a comparação, a Avenida dos Livros também lhe pode proporcionar o acesso a essa edição saída da oficina de Manoel de Lyra em 1597.

Obter a edição de 1597 em PDF

INTERNATIONAL LAW HANDBOOK

INTERNATIONAL LAW HANDBOOK Collection of Instruments

A mais completa coletânea de textos de referência

Edição das Nações Unidas

4 volumes

A ONU reuniu em quatro volumes os textos dos tratados, resoluções e outros instrumentos do direito internacional, abrangendo todas as áreas, desde a manutenção da paz e resolução de conflitos até ao direito do trabalho, passando pela proteção do ambiente, pelos crimes de guerra e pelos direitos humanos. Os quatro volumes totalizam alguns milhares de páginas e o seu conteúdo permanece atual, já que a edição é de 2017.
Para uma ideia completa do conteúdo de cada volume, clicar no respetivo botão azul para aceder ao respetivo ÍNDICE.

INTERNATIONAL LAW AND INTERNATIONAL RELATIONS

International Law and International Relations

Beth A. Simmon e Richard H. Steinberg (organizadores)

Beth A. Simmons, da Universidade de Harvard, e Richard H. Steinberg, da Universidade de Stanford reuniram uma conjunto estruturado de artigos de vários autores para abranger todas as áreas do Direito Internacional e das Relações Internacionais. É uma edição de 2006.

GUNS IN THE USA

Guns in the USA

Michael Erbschloe

Em 2014, os EUA registaram 11008 homicídios cometidos com armas de fogo. Em dezembro de 2017, a indústria americana das armas de fogo contava com 11800 empresas. Existirá relação entre uma coisa e outra? Michael Erbschloe reuniu neste livro uma série de informações, incluindo estatísticas, estudos e tomadas de posição.

AS FARPAS

As Farpas

Ramalho Ortigão

“O modo mais eficaz de seres útil à tua pátria é educares teu filho. Consagra-te a ele. A educação pública é uma burla atrozmente vergonhosa. Não lhe entregues a criança que o destino te confiou. Educa-o tu. Se não souberes mais, procura pelo menos torná-lo forte, ensina-lhe a ler e a escrever, dá-lhe um ofício e fá-lo um homem de bem; ele de si mesmo se fará um sábio, se tiver de o ser.”

O TALISMÃ

The Talisman

Walter Scott

Nos primórdios do chamado “romance histórico”, Walter Scott construiu uma narrativa sobre a terceira cruzada. Foi ele um dos responsáveis pela reputação de Saladino na Europa ocidental. O Talismã, publicado em 1825, enaltece o “espírito de cavalaria” do sultão. Séculos antes, já Dante, ao escrever A Divina Comédia (entre 1308 e 1321) tinha colocado Saladino no “limbo”, antecâmara do paraíso, entre outros “pagãos virtuosos”. É possível que a reputação de Saladino tenha sido mais elevada no Ocidente que entre o mundo muçulmano.
Para as gerações que leram os romances históricos de Walter Scott nos primeiros anos da juventude, voltar a ler não é uma repetição. A Avenida dos Livros proporciona a obtenção de uma versão digital (PDF) de uma edição da obra de Walter Scott, na língua original. Sem data, mas provavelmente da primeira metade do século XIX.

YEVGENY ZAMATIN

Yevgeny Zamyatin

WE – a distopia que irritou o regime soviético

Não quero que ninguém queira por mim – quero ser eu a querer por mim própria“. Esta afirmação de ‘I-330’, a mulher rebelde da novela ‘We‘, explica o facto de o livro, escrito em 1921, apesar de ter circulado clandestinamente, não ter sido autorizado para publicação na Rússia de Stalin, em que a vontade individual tinha de ceder à vontade do partido. ‘We‘ descreve a vida num estado totalitário e merece um lugar de destaque na wall of fame das distopias. Yevgeny Zamyatin foi exilado duas vezes, a primeira em 1905 por ser bolchevique, a segunda em 1931, para escapar à perseguição do regime de Stalin. A saída do país foi autorizada por intercessão de Maximo Gorki. Escapou à prisão mas não escapou ao sofrimento e penúria em Paris, onde veio a falecer em 1937. Os seus vários ensaios sobre o papel da literatura foram reunidos e publicados em 1970 pela editora da Universidade de Chicago no livro ‘A Soviet Heretic‘. Num deles, escreveu: “A verdadeira literatura só existe se for criada, não por funcionários fiéis, mas por loucos, eremitas, heréticos, sonhadores, rebeldes e céticos“. A leitura dos dois livros ultrapassa o interesse histórico – ainda são atuais porque, como disse Bulgakov, “os manuscritos não ardem“.

A Soviet Heretic: Essays by Yevgeny Zamyatyin

HELENA

Helena

Machado de Assis

“A voz da moça era trêmula; uma lágrima lhe brotou dos olhos, tão rápida que ela não teve tempo de a dissimular. Surpreendida nessa manifestação de sensibilidade, inexplicável talvez para o irmão, ergueu-se e procurou gracejar e rir. O riso parecia uma cristalização da lágrima, e o gracejo tinha ares de responso. Estácio não se iludiu; nada daquilo era claro, ou era tão claro como a carta. O olhar, severo e frio, interrogou mudamente a moça. Helena, que tivera tempo de se tranquilizar, voltou o rosto para a rua, e começou a rufar com os dedos na vidraça.”

O LIVRO DO DESASSOSSEGO

O livro do Desassossego

Fernando Pessoa

“Estou num dia em que me pesa, como uma entrada no cárcere, a monotonia de tudo. A monotonia de tudo não é, porém, senão a monotonia de mim. Cada rosto, ainda que seja o de quem vimos ontem, é outro hoje, pois que hoje não é ontem. Cada dia é o dia que é, e nunca houve outro igual no mundo. Só na nossa alma está a identidade — a identidade sentida, embora falsa, consigo mesma — pela qual tudo se assemelha e se simplifica. O mundo é coisas destacadas e arestas diferentes; mas, se somos míopes, é uma névoa insuficiente e contínua.”

VOO NOTURNO

Voo Noturno

Antoine de Saint-Exupéry

“Poderia ainda lutar, tentar a sua sorte: a fatalidade exterior não existe. Mas há uma fatalidade interior: há um momento em que nos sentimos vulneráveis; então, como uma vertigem, os erros atraem-nos. E foi num momento destes que sobre a sua cabeça brilharam, num rasgão da tempestade, como uma isca morta e no fundo duma armadilha, algumas estrelas. Ele pensou de fato que era uma cilada: vêem-se três estrelas num buraco, sobe-se ao seu encontro, depois já não se pode descer e lá se fica mordendo as estrelas. . . Mas a sua fome de luz era tal que Fabien subiu.”

ANTÓNIO NOBRE

António Nobre

Na Praia lá da Boa Nova     

Na praia lá da Boa Nova, um dia,
Edifiquei (foi esse o grande mal)
Alto Castelo, o que é a fantasia,
Todo de lápis-lazúli e coral!

Naquelas redondezas não havia
Quem se gabasse dum domínio igual:
Oh Castelo tão alto! parecia
O território dum Senhor feudal!

Um dia (não sei quando, nem sei donde)
Um vento seco de deserto e spleen
Deitou por terra, ao pó que tudo esconde,

O meu condado, o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso Conde,
Naquela idade em que se é conde assim…

O Poema dito por Carla Bolito (RTP, 2011)

A RESISTÊNCIA ÍNTIMA

A Resistência Íntima

Josep Maria Esquirol

‘A proximidade não se mede em metros nem em centímetros. O seu oposto não é a distância, mas a ubíqua monocromia do mundi tecnificado” – diz Josep Maria Esquirol no livro ‘A Resistência Íntima – Ensaio de uma Filosofia da Proximidade’. A resistência a que se refere este filósofo espanhol é diferente das várias “resistências” de que o homem tem memória. Trata-se agora de resistir ao vazio, num contexto em que a sociedade atua como se as coisas importantes deixassem de importar. Resistir não é afastar o outro. Bem pelo contrário, é sentir, cuidar, tornar íntimo. Resistência e proximidade são a única forma de as pessoas deixarem de ser vulneráveis à sociedade tecnificada que divide e anula.
A edição espanhola original (2015) e a edição portuguesa (com prefácio de José Tolentino Mendonça), lançada pelas Edições 70 em 2020, foram separadas pela pandemia, contexto que evidenciou duas coisas essenciais sobre a proximidade: a sua relevância e a sua viabilidade para além da distância.

ALBERT CAMUS

O Homem Revoltado

Albert Camus

O livro ‘L’Homme Révolté‘, publicado em 1951, foi mal recebido. No ambiente ideológico polarizado da época, os intelectuais de direita rejeitavam Camus por ser de esquerda. Os intelectuais de esquerda, como Jean Paul Sartre, não lhe perdoaram as críticas à violência e à opressão do regime soviético. ‘L’Homme Révolté‘ estabelece a relação indissociável do humanismo do século XX com as exigências de democracia e liberdade. Os “homens de esquerda”, incapazes de pensar “fora da caixa”, achavam que a democracia e a liberdade podiam esperar. Ainda hoje, há uma certa esquerda que pensa que o poder da esquerda é mais importante que o respeito pelos direitos fundamentais…
Camus evoca a história das revoltas e tenta o “deve e haver” dos resultados. Em vez da morte e da violência, a revolta deve associar-se ao pensamento e não pode esquecer a primazia da vida.

Camus lê um excerto de ‘O Homem Revoltado’

Para além do livro, Camus insurgiu-se contra a invasão da Hungria e aplaudiu a atribuição do Nobel da Literatura a Boris Pasternak. Atitudes imperdoáveis para o regime de Stalin que podem ter estado na origem do acidente em que Camus perdeu a vida.

DISTOPIAS

DISTOPIAS


Brave New World / Admirável Mundo Novo

Aldous Huxley

Londres, 2540. A sociedade vive hipnotizada. A manipulação genética, a tecnologia e a pressão psicológica transformou ps cidadãos em robôs. Aldous Huxley alertou em 1932 para um facto simples: a tecnologia não é neutra por natureza, tudo depende do uso que dela se faz e não é garantido que esse uso seja benéfico ou bem intencionado. O único sinal de esperança é a sobrevivência se “selvagens”, isto é, pessoas que nasceram pela “forma normal”.
Através da Avenida dos Livros, pode obter, em PDF a versão original ou uma tradução portuguesa.


Ninety Eighty-Four / 1984

George Orwell

Entre as várias distopias à disposição do leitor, a novela “Ninety Eighty-Four”, de George Orwell, publicada em 1949, esquematiza os processos de controlo da atividade e do pensamento dos cidadãos, típicos dos regimes totalitários. Inspirado nos tiques do regime soviético (Stalin), Orwell antecipa o que poderá acontecer dentro de alguns anos. A distopia de Orwell pode estar datada, mas não perdeu a sua validade de aviso. Por algum motivo deu origem a um novo adjetivo: ‘orwelliano’ é o qualificativo que se passou a atribuir a qualquer esquema ou tique totalitário. Sobram interesses, tentações e ambições – suficientes para que tais esquemas e tiques surjam. É boa ideia revisitar esta novela.
Pode optar pela versão original ou por uma versão em língua portuguesa.


Animal Farm / O Triunfo dos Porcos

George Orwell

‘Animal Farm: A Fairy Story’, novela publicada em 1945, é uma caricatura realista do regime soviético. Sob a forma de fábula ou alegoria, George Orwell, narra a revolta dos animais da Manor Farm contra a gestão humana negligente. A vanguarda dos animais é assumida pelos porcos, que ascendem ao poder e criam uma nova sociedade. Depois de muitas peripécias, os animais deixam de conseguir distinguir entre os porcos que lideram a quinta e os humanos (antigos opressores).
Pode obter a versão original ou a versão portuguesa, que surgiu com o título ‘O Triunfo dos Porcos’



Der Prozess / O Processo / The Trial

Franz Kakfa

Tal como a novela ‘1984’ originou o adjetivo “orwelliano”, a novela Der Prozess, escrita em 1915 por Franz Kafka e publicada postumamente em 1925, criou o adjetivo ‘kafkiano’ que carateriza tudo o que é anormalmente demorado, complicado e injustificado. O Sr. Josef K., empregado bancário, é detido, libertado e advertido de que deverá permanecer à disposição do tribunal, sem que lhe seja dito qual é a suspeita ou acusação. A situação prolonga-se e afeta a vida pessoal de Josef. A situação vai de absurdo em absurdo e…a história acaba mal.
É possível obter aqui a versão em língua inglesa, bem como a versão em língua portuguesa.


We

Yevgeny Zamyatin

Não quero que ninguém queira por mim – quero ser eu a querer por mim própria“. Esta afirmação de ‘I-330’, a mulher rebelde da novela ‘We‘, explica o facto de o livro, escrito em 1921, apesar de ter circulado clandestinamente, não ter sido autorizado para publicação na Rússia de Stalin, em que a vontade individual tinha de ceder à vontade do partido. ‘We‘ descreve a vida num estado totalitário e merece um lugar de destaque na wall of fame das distopias. Zamyatin foi exilado duas vezes, a primeira em 1905 por ser bolchevique, a segunda em 1931, para escapar à perseguição do regime de Stalin. A saída do país foi autorizada por intercessão de Maximo Gorki. Escapou à prisão mas não escapou ao sofrimento e penúria em Paris, onde veio a falecer em 1937.

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