Livros e Liberdade
Duas Citações de André Suarès
“No fundo, o livro é arquitetura. Quem diz arquitetura, refere-se a um edifício e a uma ordem, uma morada para os deuses e para o homem, seja ela uma casa simples ou uma basílica. A igreja é uma assembleia: a leitura é outra. O livro é a casa do pensamento. Tudo começa com o monumento e tudo termina com o livro. A cidade desmorona-se, a cidade desaparece e o livro permanece. Os edifícios são a arquitetura da matéria: o livro belo é uma arquitetura do espírito“.
“É possível que o livro seja o último refúgio do homem livre. Se o homem se converte decididamente em autómato, se chegar ao ponto de não pensar senão de acordo com as imagens prontas de um écrã, acabará por deixar de ler. Todos os tipos de máquinas compensarão a falta de leitura: o homem deixará que a sua mente seja manipulada por um sistema de visões falantes; a cor, o ritmo, o alívio, mil maneiras de substituir o esforço e a atenção morta, de preencher o vazio ou a preguiça da busca da imaginação particular: tudo estará lá, menos o espírito. Essa lei é a do rebanho. O livro terá sempre seguidores, os últimos homens que não serão produzidos em massa pela máquina social. Um belo livro, este templo do indivíduo é a acrópole onde o pensamento se refugia contra a populaça“.
André Suarès, l’Art du Livre,1920; Éditions Fata Morgana, Saint Clément de Rivière, janeiro de 2022.
André Suarès (1868-1940), escritor e poeta, deixou dezenas de obras, repartidas entre a ficção, a poesia, o teatro e o ensaio, e foi um dos colaboradores da ‘Nouvelle Révue Française’, lado a lado com Paul Claudel, André Gide e Paul Valéry, entre outros.