A História dos ‘Arquivos Mitrokhin’
- O maior resgate de informação secreta da era da ‘guerra fria’;
- O maior golpe sofrido pelo KGB;
- Milhares de agentes e e informadores expostos;
- Informadores do KGB em Portugal.
Em 1972, o KGB concluiu a construção de um novo edifício em Yasenevo (sul de Moscovo) para os seus arquivos. Vasili Mitrokhin foi encarregue da missão de classificar e transferir os documentos para o novo edifício. A operação demorou 12 anos. Desiludido com o regime soviético Mitrokhin começou a preparar a sua reforma. Ao longo desses doze anos, transcreveu à mão documentos secretos e fê-los sair do edifício escondidos nos sapatos. Em casa, acumulou-os em latas de leite colocadas sob o soalho ou enterradas no quinta da casa de campo. No dia 24 de março de 1992 (um ano depois da dissolução da união soviética), viajou para Riga com alguns desses papéis. Na embaixada dos EUA, não foi considerado credível. Na embaixada do Reino Unido, foi recebido por um jovem diplomata decidiu que comunicou o assunto ao MI6 (a designação usual do Secret Intelligence Service, SIS) e pediu a Mitrokhin para voltar dias depois. Mitrokhin compareceu num local discreto, entregou 10 envelopes com mais de 2000 páginas. Ficou de voltar em junho com mais documentos. Douglas Hurd, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do governo de Margaret Tatcher, aprovou a resgate dos documentos escondidos em casa de Mitrokhin e a concessão de asino para o agente russo e a sua família. Operacionais do MI6 visitaram a ‘dacha’ (casa de campo) de Mitrokhin e precisaram de cinco bagageiras de automóvel para trazer os manuscritos de Mitrokhin, que cobriam mais de 70 anos de atividade. Foi um dos maiores resgates de informação secreta de sempre. Em outubro, Mitrokhin obteve asilo e ficou a viver no Reino Unido com identidade falsa, colaborando com o MI6 na tradução dos manuscritos.
O impacto dos manuscritos Mitrokhin foi enorme, incluindo listas de agentes, infiltrados e colaboradores do KGB na Europa e os EUA e detalhe sobre as informações que forneceram. Foi o maior “rombo” de sempre na espionagem do KGB. Ficou-se a saber, por exemplo, como o KGB tinha preparado uma campanha de desinformação para prejudicar a eleição de Ronald Reagan. Anos depois, Mitrokhin foi autorizado a publicar a sua história em livro e a revelar inúmeras operações de espionagem do KGB. Entre elas, o modo como Svyatoslav Kuznetsov, agente do KGB junto da embaixada da URSS em Lisboa se encontrou com Álvaro Cunhal para combinar o recrutamento de seis informadores. Objetivo: facultar ao KGB o máximo de informação possível sobre os serviços de informações portugueses e sobre a NATO. As notas de MitrokhIn indicam dois advogados ao serviço do governo, um advogado ligado aos sindicatos sindical, um conservador do registo civil e dois jornalistas.
A história de Vasili Mitrokhin, incluindo este e muitos outros episódios, está neste livro THE SWORD AND THE SHIELD – THE MITROKHIN ARCHIVE AND THE SECRET HISTORY OF THE KGB.